Toda mobilidade deve ser preparada com antecedência e com cuidado. Os seguintes aspetos devem ser levados em consideração:
Os beneficiários das bolsas vão partir para uma estadia no estrangeiro, o que requer a organização da documentação a apresentar em Portugal e no país/entidade de acolhimento. Abaixo encontra-se uma check-list que poderá ser útil.
Recomenda-se que todos os documentos relativos à mobilidade sejam colocados numa pasta, tendo sido previamente digitalizados para que uma cópia dos mesmos esteja sempre disponível numa USB pen ou no e-mail do beneficiário. Dentre os documentos, destacam-se:
Explorar o site da instituição para conhecer a sua missão e valores, equipa, áreas de intervenção, dentre outros elementos que possam ser considerados úteis.
A exploração dos sites oficiais sobre o turismo do país e da cidade de destino poderá ser um bom ponto de partida.
Uma mobilidade, seja de que tipo for, é sempre uma boa oportunidade de adquirir conhecimento sobre outros povos e culturas, constituindo-se, como tal, numa oportunidade de formação pessoal e profissional. Para além das atrações que, no decorrer da mobilidade, poderá conhecer, é útil obter informações sobre as festas e os feriados nacionais ou locais, sobre os hábitos culturais, sobre a moeda e sobre os potenciais perigos e riscos.
Mais do que uma experiência de formação profissional, as várias mobilidades Erasmus proporcionam uma experiência única de comunicação e diálogo interculturais, ou seja, uma aprendizagem do Outro, aqui compreendido como aquele que é diferente de nós. Esta aprendizagem do Outro acabará por ser também uma aprendizagem de nós próprios.
Os benefícios das relações interculturais são vários, destacando-se, por exemplo:
A comunicação e o diálogo interculturais não são sempre fáceis. Implicam um processo de adaptação e alguns desafios:
É provável que os primeiros contatos com a entidade de acolhimento e os seus representantes tenham de ser feitos a distância, por e-mail, caso não haja um conhecimento prévio entre as partes. Como tal, recomenda-se que este primeiro contato seja de tipo semiformal, já que o que está a ser negociado é um período de estadia no estrangeiro. Por outras palavras, estamos a pedir licença para entrar na ‘casa’ de outrem, pelo que devemos demonstrar respeito e evitar um tom informal como se fôssemos ‘velhos conhecidos’.
Aquando dos primeiros contatos presenciais, é preciso ter em consideração os hábitos e comportamentos sociais e culturais do país de destino. Por exemplo, em Portugal, as pessoas têm o hábito de apertar a mão e até de beijar desconhecidos. Tal é impensável em alguns países da Europa, tais como Alemanha, Países Baixos, Bélgica, Suécia, Finlândia, Noruega, Estónia, Lituânia, Letónia, nos quais o aperto de mão curto e firme é o cumprimento mais utilizado, sendo evitados os contatos físicos mais próximos que podem ser considerados invasivos. No Médio Oriente e na Ásia, os contatos físicos também são evitados, sendo muito importante prestar atenção às questões religiosas para que não haja mal-entendidos que possam ser obstáculos inultrapassáveis. A título de ilustração, considere-se, por exemplo, o fato de um homem não beijar uma mulher muçulmana, pois tal cumprimento é restrito aos membros próximos da família.
Há sutilezas comportamentais que se vão aprendendo com o tempo e com a observação nas interações sociais, ainda que nem sempre seja possível evitar momentos de alguma tensão, mesmo que involuntários. Se observar que cometeu alguma gafe ou que foi inconveniente, a melhor maneira de remediar a situação é pedir desculpas e agir com naturalidade. Abaixo, apresentam-se algumas situações ilustrativas que podem eventualmente causar algum mal-estar:
Recorda-se a necessidade da utilização de boas maneiras (mesmo que nem sempre as mesmas sejam utilizadas pelo interlocutor). Deve sempre lembrar-se de cumprimentar as pessoas (um ‘bom dia’, um ‘olá’, um ‘até amanhã’ são fundamentais), de pedir tudo por favor e agradecer sempre que alguém lhe fez um favor. Em muitos países, existe uma ‘lei do ruído’, também conhecida por ‘lei do silêncio’. Por outras palavras, a partir de um determinado horário não se pode fazer barulho sob pena de incomodar os vizinhos. Se esta regra não for mencionada, para além do seu bom senso, deve procurar saber a partir de que horas não se pode fazer barulho numa residência universitária, numa casa partilhada, num condomínio.
Há um aspeto que é simples, mas que pode marcar toda a diferença na relação com o Outro numa casa partilhada ou no local de trabalho: o tom de voz. Há o estereótipo de que os povos de origem latina, para além de muito barulhentos, falam muito alto e chegam mesmo a gritar nas suas interações. Procure, pois, controlar o tom da sua voz. A utilização de um tom demasiado alto pode ser considerado algo ofensivo ou impróprio.
No decorrer do estágio, da missão de ensino ou de formação, se algo o desagradar ou não estiver de acordo com o que ficou estipulado no ‘learning agreement’, deve procurar falar em privado com a pessoa responsável e com educação a fim de esclarecer o problema. Se a questão não for resolvida, deve contactar o seu tutor de estágio ou um representante do Gabinetes de Relações Internacionais/de Estágios da instituição de ensino de origem a fim de expor a questão e pedir um aconselhamento.
Muito mais há para descobrir sobre o Outro e sobre cada um de nós durante uma mobilidade. Uma experiência interessante é registar tudo num pequeno diário e organizar álbuns digitais de fotografias, para além dos ‘posts’ nas várias redes sociais. Será interessante e gratificante recordar todos os momentos no futuro e aferir o quanto se aprendeu. Fica aqui a sugestão de um diário dividido em três partes que poderiam ser chamadas “Antes”, “Durante” e “Depois”. Na primeira parte, podem ser registadas as expectativas, os desejos, os detalhes da preparação da mobilidade. A segunda parte será dedicada ao registo das impressões, das surpresas, dos medos e ansiedades, dos momentos engraçados, das confusões linguísticas e culturais, do registo das receitas novas e deliciosas a partilhar no retorno com a família e os amigos, da saudade e da nostalgia. Na terceira e última parte, poderá ser feita uma análise com alguma distância temporal e crítica, depois da leitura das primeiras duas partes. Esta será provavelmente também uma seção em que ficará patente a saudade e a nostalgia, temperadas pelo sabor da ultrapassagem de uma etapa na vida de cada um. Seja como for, aqueles que investirem na escrita de um diário saberão como organizá-lo de acordo com os seus interesses e a sua criatividade.
Uma outra forma de tirar o melhor partido da oportunidade de beneficiar de uma bolsa Erasmus é conhecer mais sobre a União Europeia. O Programa Erasmus+ (que começou como ‘Programa Erasmus’ em 1987) é um caso de extremo sucesso na história da União de países e tem ajudado, desde o seu início, a consolidar os valores básicos sobre os quais assenta a União, missão para a qual somos todos convidados a participar: dignidade do ser humano, liberdade, democracia, igualdade, estado de direito, direitos humanos, pluralismo, não discriminação, tolerância, justiça e solidariedade.
Antes de partir, será interessante conhecer um pouco mais sobre a União Europeia, pois a sua mobilidade é também uma forma de exercer a cidadania europeia e reforçar os valores europeus. Para conhecer um pouco mais sobre os valores que sustentam a União Europeia, assista a este brevíssimo vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=CNOCbekaAcw.
Uma palavra final para sublinhar que interagir com o Outro leva ao desenvolvimento da chamada “competência intercultural” que, com o desenvolvimento dos processos de globalização, transformou-se numa competência que é global (Wilkinson 2012, 302). Na verdade, o desenvolvimento dos meios de comunicação e da tecnologia permitiu um maior fluxo de pessoas, de ideias, de artefactos culturais, o que faz com que, na nossa vida quotidiana, lidemos com pessoas de outras culturas, que têm hábitos diferentes dos nossos e falam línguas distintas. Essas diferenças não impedem que todos procurem “sentir-se em casa” e esta é uma imagem que se aplica muito bem ao ideal da União Europeia. Dito de outra forma, o Programa Erasmus+ potencia que todos os beneficiários de bolsas Erasmus possam tentar “sentir-se em casa” em países diversos. Para tal, basta que estejam disponíveis para uma experiência de alteridade, que, no termo da mobilidade, vai permitir um novo olhar sobre si mesmo, o seu país e a sua cultura. As famosas ‘gerações Erasmus’ são prova disso.
Boa viagem!